Raios
de calmaria
Quando
bem cedo o céu despertou, as folhas já não estavam mais presas às arvores,
mesmo as mais fortes. O vento da madrugada soprara muito forte, sentido ao
infinito, sendo capaz de arrastar para bem longe as já envelhecidas, queimadas,
soltas, além das verdes.
Mas
o seu olhar não estava para aquilo, não sei o porquê de toda vez notar
situações quaisquer. Seu rosto, quente de cama, queria mesmo é enxergar o sol,
como em todas as manhãs que se arrastavam desta forma. Luz da alma, sol e céu,
na parte mais concreta de sua existência só cabiam lágrimas de saudades, três
vezes postas até aquela manhã.
Ainda
com vento forte pelo rosto frágil, deu passos firmes rumo à pedra que, de tanto
usar, se ajeitara fácil ao seu corpo agredido. Todo tempo do mundo a fez ficar
assim, e relembrar tudo a tornou importante como seu gosto por viver.
Sentada,
de pernas cruzadas, calma, parou por minutos e tentou buscar aos primeiros
raios do sol respostas às suas narrativas de vida. Há quem diga que de tanto se
perguntar dos porquês daquilo tudo, a loucura lhe havia aparecido como o
respirar profundo de cada indagação.
Olhares
de fora que não a preocupavam. Seu sentimento era poder encostar as mãos de
dedos frágeis a um rosto que ficou no tempo, um tempo em que amar a deixava
leve, feliz, como o sol que nascia amarelado por natureza.
Sentir
aquele momento para ela era mágico, pois seus suspiros de saudade podiam ser
apagados por minutos. Era imagem preferida dos dois, e não se sabia ter tal
sensação de forma sozinha.
Por
minutos ficou. Enxugou as lágrimas que rolaram pela face, boca, chão. Raspou
seu sapato velho para tirar o excesso de terra e caminhou rapidamente para o
seu lugar de descanso. Tomou pelas mãos seu lençol sujo e voltou a embebedar-se
de depressão. Ali ninguém a veria de olhos com águas e nem a chamar por quem
ficou parado no tempo, lá atrás, há muito tempo.