sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Pensamento Alheio : Bertolt Brecht


Aos que vierem depois de nós...

Realmente, vivemos muito sombrios!

A inocência é loucura. Uma fronte sem rugas
denota insensibilidade. Aquele que ri
ainda não recebeu a terrível notícia
que está para chegar. 

Que tempos são estes, em que
é quase um delito
falar de coisas inocentes.
Pois implica silenciar tantos horrores!
Esse que cruza tranqüilamente a rua
não poderá jamais ser encontrado
pelos amigos que precisam de ajuda?     

É certo: ganho o meu pão ainda,
Mas acreditai-me: é pura casualidade.
Nada do que faço justifica
que eu possa comer até fartar-me.
Por enquanto as coisas me correm bem
(se a sorte me abandonar estou perdido).
E dizem-me: "Bebe, come! Alegra-te, pois tens o quê!"

Mas como posso comer e beber,
se ao faminto arrebato o que como,
se o copo de água falta ao sedento?
E todavia continuo comendo e bebendo.

Também gostaria de ser um sábio.
Os livros antigos nos falam da sabedoria:
é quedar-se afastado das lutas do mundo
e, sem temores,
deixar correr o breve tempo. Mas
evitar a violência,
retribuir o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, antes esquecê-los
é o que chamam sabedoria.
E eu não posso fazê-lo. Realmente,
vivemos tempos sombrios.


Para as cidades vim em tempos de desordem,
quando reinava a fome.
Misturei-me aos homens em tempos turbulentos
e indignei-me com eles. 
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra. 

Comi o meu pão em meio às batalhas.
Deitei-me para dormir entre os assassinos.
Do amor me ocupei descuidadamente
e não tive paciência com a Natureza.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

No meu tempo as ruas conduziam aos atoleiros.
A palavra traiu-me ante o verdugo.
Era muito pouco o que eu podia. Mas os governantes
Se sentiam, sem mim, mais seguros, — espero.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.           

As forças eram escassas. E a meta
achava-se muito distante.
Pude divisá-la claramente,
ainda quando parecia, para mim, inatingível.
Assim passou o tempo
que me foi concedido na terra.

Vós, que surgireis da maré
em que perecemos,
lembrai-vos também,
quando falardes das nossas fraquezas,
lembrai-vos dos tempos sombrios
de que pudestes escapar.

Íamos, com efeito,
mudando mais freqüentemente de país
do que de sapatos,
através das lutas de classes,
desesperados,
quando havia só injustiça e nenhuma indignação.

E, contudo, sabemos
que também o ódio contra a baixeza
endurece a voz. Ah, os que quisemos
preparar terreno para a bondade
não pudemos ser bons.
Vós, porém, quando chegar o momento
em que o homem seja bom para o homem,
lembrai-vos de nós
com indulgência.


Bertolt Brecht
(Tradução de Manuel Bandeira)
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segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Pensamento Alheio: Niemeyer, a poesia do traçado



Não é o ângulo reto que me atrai,
nem a linha reta, dura, inflexível, criada pelo homem.
O que me atrai é a curva livre e sensual,
a curva que encontro nas montanhas do meu país,
no curso sinuoso dos seus rios,
nas ondas do mar,
no corpo da mulher preferida.
De curvas é feito todo o universo,
o universo curvo de Einstein.



Oscar  Niemeyer
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segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Ciranda, cirandinha...



O sol rutilava os rostos que gargalhavam desavergonhadamente por loucura ou por intimidade. Os toques das mãos se faziam tão pertinentes e a velocidade com que girávamos mantinham-nos vivos e contentes.  Em nossas mentes unicamente a vontade de estarmos juntos para sempre e eternamente felizes. E cada som se fazia nosso e cada olhar parecia encanto e cada minuto se extinguia rápido e prenunciava assim a falta.

Mas eis que o que ficou em nós tornou-se poesia e alento. Amor e resistência. Tolerância e perdão. Gratidão e verdade. Intimidade e confiança. Calço e esperança.  Lembrança que se fez valer pelo que fomos e que propagará toda a satisfação dos nossos laços. Porque os caminhos se fizeram tantos e as escolhas e fizeram várias, mas o que nos compõe é também o que nos faz únicos.


Por  Dayane Gomes
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segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Lúgubres Lamentos!


Oh Lua!

Nesta noite corada;
Nestas horas altas,
Somos apenas metades...

De minha altura admiro teu fulgor,
Ainda que te falta parte,
De tua altura:
Podes ver minha aflição?

Deixa-me confessar-te;
Ainda que distante;
O que desejo é apenas miragem,
E o que sou tem me embotado o espírito;

Oh! Minha Querida;
Não te faço súplicas,
Nem tampouco desculpo-me os queixumes;

Rogo somente que ilumine minha busca incessante para ser inteira!


Por  Dayane Gomes
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sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Pensamento Alheio: Armando Freitas Filho



  A felicidade pode ser de carne 
  de pele apenas - corpo sem cara 
  nem cabeça, mas com a boca máxima 
  e muitos braços, peitos, coxa 
  perna musculosa, clavícula 
  omoplata, ventre liso esticado 
  peludo no lugar certo do sexo 
  e mais o cheiro preciso, exasperado 
  da axila, virilha, pé 
  tudo chegando junto, de uma vez 
  ou aos poucos, esquartejado.

Números anônimos, 1994.Armando Freitas Filho.Nova Fronteira 
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quarta-feira, 24 de outubro de 2012

Barulhinho Bom: Agridoce


Olá pessoal! Minha sugestão para hoje é o duo Agridoce, um projeto paralelo da cantora Pitty juntamente com o guitarrista Martin.O trabalho se concretiza por músicas folk, inspiradas em alguns artistas como  Leonard CohenNick DrakeJeff Buckley e Elliott Smith.


Agridoce, perpassa pelo intimismo e pelas baladas românticas, assim como sugere o nome, um pouco de suavidade para esta agitação cotidiana. Como destaque, apresento à vocês duas músicas que muito me apetecem: Dançando e 130 anos. Permitam-se! Beijo Grande!

Por  Dayane Gomes
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"Dançando"

"130 anos"

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Pensamento Alheio: Rafael Silvestre


By Cahaddad

Loucura! 

Existem dois orifícios em minha atmosfera de delírios noturnos. Um vem do lado esquerdo do meu corpo, onde ficam as minhas maiores satisfações últimas. O outro, acima dos meus olhos, meio verdes e meio azuis, de vez em quando castanhos. Ambos, entretanto, me preenchem o estado único de prazer infiel, estranho, capaz de me entorpecer sempre em delírios noturnos, atrás de silêncios e infinitas projeções de desespero.

Agora mesmo, quando passo a mão na minha alma, solta no vento, indo e voltando no meu corpo, percebo o quão arriscado são essas sensações, identificadas apenas quando permito-me viver um pouco mais além da conta de dois goles de álcool. 

Nasci perto do escuro, perto da afortunada resistência de um destino de semanas. Por isso aprendi a criar regras e imposições apenas minhas, soltas, calmas, fiéis ao meu desespero de viver a lacuna dos outros. No outono isso se acentua mais porque vigora, na nitidez, lágrimas de anos de solidão incompleta. 

Mas não percebo a minha insensatez como tudo isso. Acordo sempre, respiro sempre, transmito palavras sempre, levanto-me sempre, não noto que sou tão forte e mais rápido do que minha própria condenação. Sou a borboleta azul de mar azul, que quando quer permite-se morrer cantando, voltando no seu tempo. 

A utopia, as decisões nulas, o escuro, a luz dos dentes brancos, o aperto de mão e o pão amanhecido permitem isso, me deixam viajar enquanto meus pés pulam do chão. Hoje mesmo por quatro a cinco minutos me dei forma e coesão nesse mundão que gira em torno do meu abismo profundo.

A loucura é o meu prazer indissociável, é meu atributo espacial, de tempo, forma e movimento. A loucura é a minha transmutação entre o além e a bravura de me perceber assim, por entre insanidades e satisfação.
  
Rafa Silvestre 
Twitter: @PoetaRafael
Para mais textos , acesse: Arte no Movimento 

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